Lobito 14 Fevereiro de 1976

As forças representativas do MPLA continuaram o seu imparável avanço em todas as direcções: a coluna que ocupou Nova Lisboa seguiu para Leste e apoderou-se de Silva Porto, o maior centro militar da UNITA; a outra coluna que havia tomado Lobito e Benguela, deixou aqui uma pequena guarnição ocupante e seguiu para o Sul em direcção de Sá da Bandeira e Moçâmedes, cidades que alcançou no dia seguinte.
Tudo sem luta, praticamente sem um tiro. A resistência terminou com a tomada de Nova Lisboa onde também, afinal, não houve luta.

Ulteriores informações esclareceram-me que logo que as tropas do MPLA, com o aparelho bélico atrás anunciado, se aproximaram da cidade e alcançaram meia dúzia de "rockets" de 122mm sobre as posições da UNITA, imediatamente as forças desta bateram em retirada abandonando a cidade, E assim continuou a acontecer em todas as cidades que se seguiram, efectuando-se a retirada até 24 horas de antecedência.
Mas. que eu saiba, não houve rendições; também não sei a que reduto se acolheram. Está praticamente tudo tomado pelo MPLA (tudo, refiro-me a centros populacionais), salvo a cidade do Luso, cuja demora se deve atribuir às dificuldades do percurso. À UNITA resta-lhe o mato, mas não terá grandes hipóteses de sobrevivência por impossibilidade da manutenção, dada a completa carência de apoios logísticos.
Mas também pode acontecer que, como Savimbi prometeu, enverede pela luta de guerrilha. Para tanto terá de fragmentar muitos efectivos, formando pequenos agrupamentos e disseminando-os pelo território, mas não poderá contar muito com a ajuda das populações rurais para a subsistência, já que estas actualmente resistem a angustiante situação de fome.
Terá então que assaltar as estradas para se apoderar de viaturas que transportem mantimentos, em franco regime de bandoleirismo. E uma vez mais será a população civil quem terá as despesas da contenta.

A Rádio Nacional (de Luanda) tem "embandeirado em arco" ao relatar as sucessivas conquistas das suas "gloriosas forças armadas", a fim de "libertar o povo das guerras do imperialismo americano e sulafricano".
Mas a verdade será um tanto diferente:
1º - a partir do momento em que os sulafricanos resolveram retirar (apenas por razões políticas), não houve mais conquistas pelas armas, não houve mais ocasião de glorificação;
2º -porque essa "libertação" tem sido exclusivamente efectuada pelos mais de 12.000 cubanos equipados com o mais moderno material russo, e foi tão só devido a isso (e à retirada dos sulafricanos) que se tornou possível o arranque até final;
3º - porque, imparcialmente, ponho muitas dúvidas quanto à dita "libertação", pois se foi necessário entregar essa libertação ao poder militar estrangeiro (URSS e Cuba interferiram muito antes da África do Sul), será certamente porque se tratava de uma minoria, e a grande maioria do povo não desejaria tal libertação;
4º - porque, por este caminho, é que Angola se escravizará ao imperialismo, já que, evitando o dito americano, irá cair no soviético.

Sem dúvida que aquelas parangonas sonoras não convencem ninguém, mas à força de serem repetidas, acabam por se aceitarem como verdades axiomáticas em função de um fenómeno psicológico de que a arte publicitária sempre aproveitou.

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