Sim senhores! Isto é o que se pode chamar um trabalho bem feito: na independente e livre Angola está em curso uma operação de mentalização política que cobre integralmente todos os sectores de actividade.
Coisa bem planeada, não há dúvida. Para qualquer lado que o camarada-cidadão ( ou cidadão-camarada, não sei bem) se vire depara sempre, mesmo que não lhe agrade, com propaganda política. E sem opção, claro.
Na Rádio, no cinema, na imprensa, no trabalho, nas escolas, nas ruas e demais lugares públicos, nas repartições e nos escritórios, em toda a parte se vê, se ouve obsecantemente e ... por fim se sente a infiltração política.
Não se trata de abertura mental ao povo, de lhe provocar raciocínio, de lhe abrir horizonte ao pensamento e de o instruir para optar.
Nada disso. Tudo está pensado , tudo está raciocinado; só há que caminhar pela estrada apontada de olhos vendados e confiantes. Isso mesmo, confiantes, que o pensamento já asfixiado não deixou alternativa senão... confiar.
É pois um sistema de fé, sem dialéctica, que repousa em pedras axiomáticas, em dogmas criados por homens havidos por infalíveis, arvorados em deuses terrenos. E não há lugar a dúvida, que a dúvida é petulante, insolente, e quem dúvida é reaccionário e... convenientemente tratado como tal.
Nesta tecedura se desenvolve então o Poder Popular.
Por Poder Popular será a comparticipação do povo na governação do país; e essa comparticipação (directa!) será exercida através das Comissões de base - de Bairro, de Comuna, de Trabalhadores.
E até aqui menos mal ainda que mítico. Mas a farsa reside no facto de essas Comissões não poderem exercer livremente a sua função determinada pela própria vontade, Terão que obedecer estritamente a ordens procedentes ás cúpula do Partido ou do Governo; não são gestores, são meros mandatários com aparência de mandantes.
Eis no que se traduz a sua apregoada liberdade. E não surpreende que assim aconteça, pois aos seus membros também lhes é vedado pensar!...
Assim corre "maravilhosamente" a vida política e social; sem reacção, sem oposição, todos identificados na tarefa de realizar uma "Angola livre".
CONTINUA...