Lobito 26 Novembro de 1975

Tenho procurado registar nestes apontamentos, tanto quanto possível fiel e imparcialmente, o desfiar dos acontecimentos na ordem interna. Não obstante, não nego que deles transcende, põe vezes, um certo pendor político (pendor anti-comunista). É verdade.
Não sou propriamente político, mas sou anti-comunista, melhor dizendo, anti-totalitário. Repudio todos os regimes de força, conquanto aceite, e até deseje,  autoridade convenientemente doseada. Por isso, distingo a força para manter a ordem social, a disciplina, da força para manter o regime político a todo o custo.
Claro que muitas vezes será difícil definir as situações que dão licitude ao uso da força pois, mesmo no campo político, reconheço legitimidade para o uso da força para reprimir assaltos violentos ao Poder, designadamente por grupos activistas minoritários.
E porque assim penso, aqui e ali escapou a critica mais vigorosa ao MPLA em virtude da sua linha política e, vá lá, da violência da sua conduta para escalada do Poder o que, aliás, também está de acordo com as normas do seu programa.
Propositadamente evitei referencias ou comentários aos reflexos internacionais. Disse "reflexos", mas melhor será dizer "ressaca internacional". Porque propriamente reflexos são os acontecimentos de Angola, como eventos resultantes da política internacional na qual, por ressaca se voltam a projectar. Angola nunca foi, nem virá a ser tão cedo, senhora dos seus destinos. Tudo o quanto aqui se passa é manobrado de longe, ao gosto ( ou contra-gosto) das grandes potencias.
Certamente que ninguém duvida que não é por altruísmo, ou por mero proselitismo, que os Estados estrangeiros tomam partido na questão de Angola. Fazem-no como questão sua, por estarem em jogo seus interesses económicos ou estratégicos. Os Movimentos de Angola, com suas vitórias, suas derrotas, de peões no tabuleiro de xadrez.
Estou certo de que os chefes dos Movimentos sabem isso; mas uma coisa é sabe-lo, outra é poder evita-lo. Mas a grande massa não sabe e, ingenuamente, acredita nos seus "amigos" de fora. E adere, e discute, e comenta as façanhas do seu Movimento com a mesma estreiteza e leviandade com que se discute as proesas do Benfica ou do Sporting.
Vêem as árvores mas não enxergam a floresta.
(...)