Lobito 17 Maio 1976

Do Governo de transição de Angola (composto por elementos dos 3 Movimentos) e também do Governo da efémera República Democrática depois, fazia parte um individuo de nome Henrique Vaal Neto, militante da FNLA. Ignorou-se as suas qualificações mas, sem muito se ter evidenciado, pareceu-me, através da sua actuação, um Ministro um tanto equilibrado e cumpridor.

Desbaratado o seu partido, Vaal Neto e todo o seu Governo abandonaram Angola. Apareceu depois em Lisboa onde, há semanas, fez declarações à Imprensa. Não tive ocasião de ler o que então disse mas, pela reacção que provocou, deve ter açoitado severamente o MPLA.

O Governo de Angola não gostou, naturalmente, da proeza e tratou logo de increpar a Imprensa portuguesa e sobretudo o Governo Português por consentir que os seus órgãos de informação dessem acolhimento a tais "calúnias". Diz-se que teria exigido que a Imprensa se retratasse e o Governo extraditasse para Angola o referido Vaal Neto. Mas Portugal, onde já não domina o Gonçalvismo que pariu a exemplar descolonização, negou-se a "cumprir a ordem",como país livre que pretende ser.
Em consequência, e como represália imediata, Angola suspendeu o processo em curso de formalização de relações diplomáticas. Mais: suspendeu também a concessão de vistos e salva-condutos a portugueses que pretendem regressar.

Angola não inteiramente satisfeita com a independência, pretende agora, como filho rebelde, impor a sua vontade e dominar o velho pai.

Mas talvez este e outros actos hostis não sejam esporádicos ou ocasionais, e revelem antes uma conduta concertada em obediência a planos previamente estabelecidos. A URSS, animada pelo êxito alcançado em Portugal após o 25 de Abril, lançou-se deliberadamente na consolidação desse baluarte duplamente valioso pela sua situação geográfica - isolar a Europa Ocidental bloqueando eventual auxilio americano, e firmar uma frente directa aos EUA para futuro e integral domínio do Atlântico Norte.


CONTINUA...