Tropas da FNLA e da UNITA ficaram a ocupar a cidade. A despeito de serem forças coligadas para combater o adversário comum (MPLA), vai-se desenhando uma situação de certa animosidade entre os dois grupos, a qual começa a causar apreensões na população.
E tudo parece resultar, já de certa inveja dos parcelares êxitos de cada um, já de divergência de conceitos quanto ao modo como se deverá estruturar o futuro do país.
Mas, no fundo, talvez esteja outra causa: enquanto os quadros da FNLA são constituídos , segundo aparenta, por indivíduos relativamente evoluídos, muitos dos quais terão recebido prévia preparação técnica (e social?) no exterior e, por isso, sabem dominar e melhor disciplinar os seus soldados; a UNITA, de formação mais recente e mais pobre, não tem quadros de base capazes de impor ordem e disciplina aos seus subordinados. Por via de regra, os seus graduados não têm preparação especializada, tendo ascendido ao posto por mérito em campanha ou...por falta de melhores.
A par disso, os seus dirigentes políticos locais parece que só se preocupam com as benesses que a situação lhes proporciona no dia-a-dia, sendo indiferente ao futuro. E como os benefícios imediatos são os que maior impacto causam nas massas, não hesitam em apoiar, e até fomentar, o saque, as apropriações ilegais, as ocupações selvagens.
O bode expiatório é o branco. Incute-se no animo da soldadesca, e mesmo do povo negro em geral, que tudo quanto existe em Angola está à disposição das suas necessidades ou dos seus apetites. Os bens do branco são bens do povo, porque aquele obteve-se pela exploração deste.. Sobretudo os bens que pertencem aos ausentes. Daí a legitimidade de lhes tomar o automóvel, a casa de habitaçºao, etc. Um cacique local afirmou há dias num comício popular que a "era da bicicleta acabou", ou seja no futuro será a era do motorizado pela apropriação dos automóveis dos brancos.
Este cacique (Jorge Valentim) tem-se revelado extremamente demagógico, com especial aversão pelos habitantes brancos.
é comicieiro notável e sabe manipular as massas. Não perde oportunidade de ostentar a sua autoridade e tem particular prazer em efetuar prisões arbitrárias. O seu chefe (Presidente Savimbi) deve ter tido dificuldade em o segurar e maior ainda em o substituir.
Paralela e paradoxalmente, repete-se que carecem dos brancos para o desenvolvimento de Angola e apelam ao seu sentimento patriótico (?) para que não abandonem o país. Em suma, de uma feita pedem aos portugueses que se deixem ficar, de outra vez incitam à espoliação e humilhação dos que nisso acreditaram...e ficaram.
A cada passo se topa com soldados na rua a mandarem parar os carros, exigindo que os levem a um ou outro ponto da cidade. E vão mesmo pelo imperativo modo das armas. Estabelecem controlos arbitrários do transito só pelo infantil prazer de se verem obedecidos; exigem documentos da viatura, mas como muitos são analfabetos, fingem examiná-los até em posição invertida...
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