Lobito, 12 Abril 1976

É por demais conhecida a situação angustiante em que se encontram os "retornados" em Portugal.
Grande parte levou apenas maleta com muda de roupa, e muitos deixaram aqui, com suas esperanças, todos os seus valores.
Sem habitação, sem dinheiro, sem trabalho (que as comissões de trabalhadores não consentem que a eles se irmanem), sem auxilio do Estado (além da esmola de um subsidio temporário que, segundo consta, teria sido oferecido pelos EUA), banidos por todos e por todos ignorados, pensam aquelas almas culpas que a outros cabem.
Quanta mão de obra desperdiçada num país que precisa aflitivamente de produzir, num país que só é rico em política que lhe espirra por todos os poros!
Muitos desses "retornados" pretendem regressar a Angola pois, inferno por inferno, antes aquele onde, ingenuamente, ainda acreditam poder fruir os seus bens, tirante os imóveis. E estes até quando ?

Depois das sistemáticas pilhagens, saques e destruições feitos pela soldadesca e pelo povo, estará nas normas políticas do partido que o Governo deverá proceder do mesmo modo. Pois não é o povo quem manda ? Se é quem manda, quem mais ordena, é a ele que compete dar o exemplo. E o povo já deu esse exemplo que o Governo agora terá de secundar, sob a pena de falsear a sua linha política.
E assim está efectivamente a acontecer através de várias disposições legislativas já publicadas, e de outras que se adivinham para breve.

Angola não tem dinheiro nem meios, a curto prazo, o produzir.

Mas o património dos brancos será presa valiosa e apetecível, mesmo à mão, que convirá aproveitar sem contrapartida onerosa. Porém, como integral e súbito confisco provocaria, certamente, reacções mesmo a nível internacional, haveria que planejar o processo por lances sucessivos, de modo a que uma medida fizesse esquecer a anterior.
Começou-se pelos que se ausentaram antes da data da independência; ao que ficaram, de inicio não convirá molestá-los muito, pois é ainda necessária a continuidade da sua presença, mas lá chegará a sua vez.

Apreciemos, pois, a situação dos que saíram durante o 2º semestre de 1975 e que em Portugal designaram por "retornados", expressão nem sempre apropriada porquanto muitos foram a Portugal temporariamente e outros nem sequer lá haviam nascido. Cabe aqui referir que o vocábulo tomou até um sentido pejorativo, ao contrário dos que emigraram para outras paragens que são havidos como salvadores da pátria.




CONTINUA...