Lobito 7 Janeiro de 1976

O MPLA iniciou uma contra-ofensiva para aliviar a pressão sobre Luanda, e chega-nos a noticia de que as suas forças em progressão para o Norte, haviam atingido as cidades de Negage (importante base aero-militar) e Carmona (capital do distrito do Uíge).
Pouco depois soube-se que essas cidades haviam já sido tomadas. O acontecimento surpreendeu aqui toda a gente.
O distrito e Uíge, junto com o do Zaire, formam a região do Congo angolano que sempre esteve no domínio da FNLA e onde este Movimento tinha o seu Quartel-General. Julgava-se que este Movimento dispunha de boa ocupação militar e eficiente diapositivo de defesa que tornasse impossível uma penetração tão rápida e profunda como a que se verificou.
Mas o vaivém da guerra dá, às vezes, estas surpresas.
Contudo será cedo para fazer a história do acontecimento, pois parece não ter sido uma consequência lógica da situação; as forças dos dois lados poderiam considerar-se equilibradas, ainda que o MPLA possa ter melhorado a sua qualidade com as unidades de cubanos; poderá dar-se como certa também a superioridade (em quantidade e qualidade) de armamento que os soviéticos têm despejado em catadupas ultimamente. Mas tudo isso talvez não baste para justificar tão fulminante êxito.

A contrapor, teria o MPLA a desvantagem de ser a força atacante e ter de transpor zonas de muito difícil penetração (como Nambuangongo).
No entanto aconteceu. E, que se saiba, sem detença pelo caminho.
Ponderados aqueles factores, a ocorrência é estranha, mesmo muito estranha. Por isso, será cedo ainda para se conhecerem as razões.
E porque se trata de profunda penetração em lança (mais de 300 Kms. a partir de Luanda), não está afastado o risco de o sucesso de momento virar em desaire, posto que tal risco certamente tenha sido previsto.

Todavia, é inegável que um objectivo já foi alcançado (proporcionar ao MPLA o fundamento para invocar que domina uma bem maior parte do território angolano, embora não seja inteiramente verdade, pois tomou cidades mas não ocupou a região).
E, nesta altura, isto é de suma importância por se estar em vésperas de Conferência Cimeira da OUA, em Addis Abeba, fixada para daqui a três dias, o próximo dia 10, pois, sem dúvida, que veio fortalecer a posição do MPLA na mesa das conversações.
Inclino-me até para a hipótese de ter sido esse o objectivo, dando tudo por tudo, ainda que pudesse vir a comprometer o futuro das suas armas. De resto, já dias ou semanas atrás era voz corrente que o MPLA tentaria algo nesse sentido.

A Conferencia da OUA vai tratar da questão de Angola como mais importante ponto da sua agenda.
Constituem-na 46 países africanos, dos quais vinte já reconheceram o Governo do MPLA. Por isso impunha-se, como valioso factor, que este Movimento se apresentasse nessa Conferencia como detentor de mais território do que a escassa quarta ou quinta parte que, dias antes ocupava.

Enquanto isso, permanecem quase estacionárias as frentes de Sul e Leste. Desde há bastantes semanas que os sulafricanos se limitam a manter as suas posições, salvo uma pequena progressão na direcção de Vila Teixeira de Sousa, última estação ferroviária até à fronteira com a República do Zaire.