Cont. (...) 26 Dezembro de 1975

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Os menos avisados sobre a política angolana, e os menos conhecedores da conduta e reações do homem nego, estranharão esta disputa entre os dois Movimentos que tinham acabado de se coligar, formando Governo comum para combater o inimigo de ambos (o pró-comunista MPLA).

Por isso, há que remontar atrás, ao Congresso do MPLA realizado no ano passado em Lusaka. Nesse tempo grassavam fortes desinteligências no seio do MPLA quanto à orientação política trilhada pelo partido, bem como quanto à chefia.


Como dissidentes apresentavam-se Pinto de Andrade , que capitaneava a chamada Revolta Activa, e Daniel Chipenda que acautelava a facção conhecida por Revolta do Lesta. Ambos pretendiam destronar Agostinho Neto. No Congresso, porém, Agostinho Neto foi confirmado, ainda que Chipenda tivesse colhido muitas adesões.

Chipenga não se conformou e, pouco depois, separou-se do MPLA levando consigo um importante quinhão das suas forças armadas. A seguir, e por razoes que ainda não são do conhecimento publico, ingressou na FNLA de Holden Roberto, assumindo o cargo de Secretário-Geral, ou seja, numero dois do Movimento. Contudo, as suas tropas mantiveram-se sempre distintas do conjunto da FNLA e passaram a ser conhecidas por "Fracçao Chipenda".

Este Chipenda, natural do Lobito onde estudou o curso liceal, transferiu-se depois para Lisboa e Coimbra em razão de especial habilidade para prática de futebol, tendo actuado nas turmas do Benfica e da Académica. Tem-se mostrado um individuo bastante activo e, a fazer fé nas suas declarações, será dos cabecilhas aquele que talvez melhor compreenda e aceite a comparticipação dos brancos.

Todavia, por razões que ignoro, Chipenda vem tendo atritos e questiúnculas com alguns dirigentes da UNITA. O certo é que forças dos dois Movimentos passaram a ententer-se cada vez menos em cada localidade que ocupavam, sobretudo em relação à Facção Chipenda que era quem representava a FNLA no Centro e Sul do país e maior contacto tinha, por isso, com as tropas da UNITA.

Os atritos e desinteligência foram-se avolumando, saltando as questões para o domínio publico atravez da Rádio, onde a UNITA (seus dirigentes locais) vituperava Chipenda, até com injurias soeses. Mas a verdade é que, pelo menos na aparência, terá sido a UNITA quem deu azo à discórdia.


É da sabedoria popular que "não cabem dois galos no mesmo poleiro"; mas quando as circunstancias aconselham a coexistência, será essencial, para o bem-comum, que esses dois galos contemporizem e respeitem mutuamente o "status quo", o que, como foi visto, não aconteceu.