Lobito 28 Fevereiro de 1976

Os actuais dirigentes de Angola e todos os que, por beneficio das circunstancias, se alcandoraram a posições de chefia verão com simpatia, e até desejo, a substituição dos portugueses por estrangeiros.
Isso liberta-os de contumaz timidez e abranda-lhes complexos psicológicos que, mau grado, continuam a sentir perante os portugueses. Não se sentem, nem nunca se sentirão nesta geração, à vontade frente àqueles que, anteriormente, conheceram a modesta posição social, a sua incompetência ou, porventura, os seus notórios defeitos. Reconheceram intimamente que os portugueses não poderão levar a sério um Secretário de Estado, um Director Geral ou outro alto dignatário que, antes, fora seu humilde continuo.

Vendo bem, torna-se difícil para um patrão novo impor autoridade ao seu antigo amo.

Disse alguém (salvo erro Napoleão) que ninguém é importante perante o seu criado de quarto. Parafraseando o dito, pleno de conteúdo, não há dúvida que os novos mandantes negros terão razão em recear que a importância das suas pessoas não seja dado o devido apreço. Com os estrangeiros será diferente, porque já vêm conhece-los nas suas novas e altas funções, embora se possam aperceber logo da sua patente primitividade. (Salvaguardam-se excepções).

Daí, talvez, a razão de exteriorizações raciais que visam mais os portugueses que a generalidade da raça branca. Por isso, ainda, o MPLA se opõe com vigor ao regresso dos portugueses que, durante a época tumultuosa, se ausentaram de Angola, embora saiba também que terá que importar outros para os substituir nos cargos técnicos. Por isso... e ainda porque será uma barata e cómoda maneira da fazer reverter para o Estado (ou para os preveligiádos) os bens que aqueles aqui deixaram.

Cabe esclarecer que este fenómeno apenas se verifica no âmbito da governação e daqueles que, de qualquer modo, conseguiram catapultar-se a posições de alta administração. Porque a grande massa do povo, essa continua a ser... simplesmente povo.

O povo sente já saudades da gerência portuguesa não parece aceitar de bom grado a sua substituição por outros estrangeiros. Sente um medo insuperável pelos cubanos; e é vê-los de mala aviada, abalar das áreas onde aqueles se concentram. Crêem que os cubanos não são bons e, não lhes agradando compartilhar com eles as mulheres e as filhas, cuidam de as pôr em melhor recato. Desde que se tornou provável a tomada do Lobito pelos cubanos, todos os precários transportes para o interior têm seguido a abarrotar de fugitivos, principalmente de mulheres e crianças.

Necessariamente não se deve inferir que os cubanos são piores que outros povos. Em todos os exércitos de todos os tempos a mulher foi sempre uma deleitosa e apetecida presa soldadesca, e não há motivos para aqui constituir execpção, pois os cubanos tendem a reagir como se de território inimigo se tratasse.

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