Lobito 31 de Outubro 1975

Clarificou-se já o panorama guerreiro da frente Sul anunciado há dias com a tomada de Sá da Bandeira por forças do bloco FNLA/UNITA.
Segundo consta, e confirmado pelas emissoras estrangeiras, uma força militar constituída por um grupo da chamada facção Chipenda (FNLA) e uma ou duas Companhias  de brancos - ao que se diz açorianos e refugiados angolanos na África do Sul - fortemente armados e organizados, avançou da fronteira Sul para Norte sobre Sá da Bandeira, que tornou , e fraccionando-se, um grupo dirigiu-se para Moçâmedes e Porto Alexandre que igualmente conquistou; outro grupo teria seguido para Norte com destino para Benguela.
Digo acima "segundo consta" porque, realmente são muito escassas (e pouco garantidas) as fontes de informação.
Antes das confrontações armadas enquanto os três Movimentos coexistiam em Luanda (e no Governo), havia jornais que, embora com pendor partidário, lá iam dando as noticias mais importantes. As estações de rádio-difusão tinham idêntica conduta posto que desde cedo, a Emissora Oficial (de Luanda ) tivesse sido assaltada pela propaganda comunista.
Com a guerra declarada entre os Movimentos e o domínio de Luanda pelo MPLA, os jornais foram pelas Comissões de trabalhadores que erradicaram todos os que não pensassem ou escrevessem de feição. O mesmo aconteceu nas emissoras de rádio.
A partir de então quer os jornais quer as estações de rádio começaram a editar noticias manipuladas de doutrina comunista. E, à medida que o MPLA ia ocupando outras cidades logo os órgãos de informação eram absorvidos. A partir daí ficamos sem conhecimento seguro do que se foi passando; ou melhor, sabíamos apenas aquilo que "convinha" que se soubesse.
É óbvio que os Movimentos, nas suas áreas, terão procedido do mesmo modo ou semelhante.
E, a substituir a noticia credenciada, surge o boato mais ou menos tendencioso, quase sempre exagerado, muitas vezes falso e...por vezes certo.
Assim se abriu uma nova frente: a guerra da informação.
A Emissora Oficial (Luanda) e a do Lobito em cadeia com aquela, entusiasmam-se na verberação dos outros Movimentos, chamando-lhes invasores, estrangeiros, imperialistas a soldo do capitalismo, fantoches, inimigos do povo, exploradores, assassinos e ... sei lá que mais! Descem mesmo ao insulto pessoal dos seus dirigentes em termos soezes. Não fornecem noticias gerais; dão a posição politico-militar de Angola (a seu modo), perdem-se infindamente a transmitir comunicados e avisos de comícios, de assembleias, de reuniões de Comissões de bairro, de Comissões de trabalhadores, de Comissões de ... de...e, no final, lá largam uma ou outra noticia do estrangeiro, mas apenas do mundo esquerdista, e fechando com uma ou outra nova sobre o "progresso progressista" de Portugal.
Por sua vez a UNITA, através da Emissora de Nova Lisboa, (a emissora da FNLA no Uíge, não se ouve aqui) defende-se e contra-ataca pondo a claro a feição comunista do MPLA, marioneta de Moscovo. Todavia tem sido mais moderada na linguagem, e mais completa e relativamente imparcial no noticiário internacional.
Costuma pôr em foco as personalidades dos dois Movimentos : enquanto diz, o presidente Savimbi sempre acompanhou as suas tropas e o seu povo, mesmo durante os anos de luta contra domínio português (e é verdade), sofrendo as agruras e correndo os risco da vida nas matas, o presidente Agostinho Neto, o paladino da sociedade sem classes, do colectivismo, do poder popular, acérrimo opositor da exploração do homem pelo homem, etc, etc...no decurso destes 14 ou 15 anos de luta sempre viveu comodamente instalado nas grandes cidades, visitando amiúde as capitais do mundo, rodeado de todo o conforto; que mau grado a sua propensão igualitária, constituiu-se grande accionista da Cabinda Gulf Oil onde, segundo consta sem contestação, possui acções de algumas dezenas de milhares de contos. Enquanto continua a dizer a mesma emissora, Savimbi continua ter a sua família em Angola, Agostinho Neto pôs oportunamente a mulher e os filhos a bom recato na Europa.
Por aqui se vê quão deficiente nos chega a informação sobre os acontecimentos. Com as comunicações terrestres cortadas, as áreas quase inexistentes, e os telex e telefones avariados ou controlados, rara é a noticia (oral) que pode merecer inteiro crédito, pois vem sempre deturpada pelo entusiasmo partidário de quem a transmite.
Restam-nos as emissoras estrangeiras que, embora também algo sectárias por vezes, nos vão dando um panorama mais real da situação. As mais escutadas, por menos parciais, são a BCC (Londres), a Rádio África do Sul e a Deutsch Wella (Alemanha Ocidental).