Recordando...(continuação)

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Industria de transportes - a) Rodoviários: Na generalidade deixaram de existir, salvo dentro das zonas que o mesmo Movimento controla. Não há segurança nas estradas e os camionistas recusam-se à aventura. b) Ferroviários: Das três principais linhas de penetração, só a do Norte (Luanda - Malange) e a do Sul (Mocâmedes - Serpa Pinto) realizam alguns percursos parciais, segundo parece, mas sem expressão económica; a do Centro (CFB), a linha mais importante que atravessa Angola do Oeste para Leste, numa extensão de 1.348 Kms, única de transito internacional, está parada há dois meses.
Prejuízo, milhares de contos diários de receita de exportação, afora as portuárias e aduaneiras que tal paralisação ocasiona.
c) Marítimos: O anterior regime português nunca permitiu que Angola criasse frota marítima própria de longo curso. Por isso não há empresas armadoras em perigo de baquearem. Não obstante, é altamente preocupante a queda do movimento portuário; desde há cerca de um ano que os portos de Angola quase paralisaram. Na base disto estão as sucessivas greves selvagens dos estivadores, com reivindicações salariais progressivas e incomportáveis, em antinomia também progressiva de baixa produtividade. Os navios, aguardam, fundeados nos portos de Luanda e Lobito, durante semanas e meses, vez para atracação. Os armadores, para se compensarem da demora, subiram os fretes para os portos de Angola 30 por cento, depois 50 e finalmente 100 por cento; depois com as altas salariais dos estivadores, os encargos portuários ficaram mais onerados. Resultado imediato: vertiginosa subida de preços do mercado interno.
d) Aéreos: os únicos que pouco ou nada sofreram, àparte certa alteração na disciplina funcional.

Comercio - Hoje um, amanha outro, os estabelecimentos comerciais estão a encerrar ou a reduzir a sua actividade. Primeiro, os grossistas que não podem renovar os  "stocks" e estão a vender apenas as existências; depois, os retalhistas que seguem nas suas pisadas. Já pelas dificuldades e morosidade na importação, já pelos custos proibitivos das despesas de transporte e desembaraço portuário, já ainda pela falta de segurança e pelo risco que correm de verem saqueados os seus haveres, todos alinham na corrida da liquidação na esperança de, traduzidos em dinheiro, mais facilmente poderem salvar e porem em resguardo os seus valores.
Apercebendo-se das graves consequências que daí resultam para a população, já os governos locais tomam medidas de sustimento proibindo o enceramento dos estabelecimentos; mas não creio que algo pratico possa resultar, pois a questão é menos de ter as portas abertas ou encerradas do que ter que vender.

Saúde - Posto que longe dos níveis europeus, Angola dispunha de uma cobertura sanitária razoável que guindou acima da maior parte dos países africanos, à excepção da Republica Sul-Africana, segundo esclareciam as estatísticas.
Disseminaram-se postos sanitários por todo o território e estava-se em plena campanha de construção de novos hospitais, pelo menos nas capitais de cada distrito. Ao par, provia-se o conveniente apetrechamento, criaram-se mais escolas de enfermagem. O suprimento do corpo clínico era mais moroso, mas havia fundadas esperanças nos lotes de novos médicos que começavam a sair da Faculdade de Medicina da Nova Universidade de Luanda.
Com a "guerra" tudo mudou; parou a construção hospitalar, parou o apetrechamento, parou a formação de enfermeiros, parou a Universidade. Os médicos do hospital abalaram, uns reformados invocando as mais variadas incapacidades, outros por simples abandono, e todos na procura de melhores paragens; os de clínica particular seguiram-lhes as peugada e o mesmo fizeram os enfermeiros.
Os Movimentos entenderam por bem criar-lhes dificuldades de toda a ordem, como aliás à restante população, sobretudo quanto a condições de segurança.
Resultado: o Estado de Angola, a braços com esta gravíssima situação procura recrutar outros médicos no exterior sem olhar a preços. Já se encontram em Luanda alguns médicos estrangeiros e a Benguela chegou há dias uma equipa de médicos (7) cubanos.