Lobito 28 Junho 1976

Afinal, cheguei à decepcionante conclusão que todos os movimentos são iguais... na incapacidade de governar. É conhecido o retumbante fracasso da UNITA nos meses que aqui imperou. Fica-nos,porém, esperança de que o MPLA seria mais eficiente, pois ninguém ignorava que além de melhor estruturado, nele se encontrava a maior parte dos intelectuais.

Mas o MPLA está aqui desde o principio de Fevereiro; aqui e em toda a parte, e a ilusão, a esperança esfumou-se. Até muitos dos adeptos já acusam desalento. Economicamente tudo continua como antes, talvez mesmo pior.
Embora seja um partido cujo roteiro não seja do meu agrado, na qualidade de estrangeiro que agora sou, aceitava-o e até desejava reconhecer-lhe algumas virtudes; virtudes que gerassem melhoria de vida para as populações, que para isso é que deve existir a política.
Mas não. O povo luta cada vez com mais desespero pela subsistência e  o Movimento (ou partido) nada tem feito para o minorar. Em lugar de procurar promover o bem-estar do povo, afadiga-se na consolidação da sua estrutura política por meio de inúmeras comissões e intermináveis reuniões onde martelam até à saturação as palavras de ordem. A economia ficou para segundo plano.

Esta inversão de prioridade, em vez de fornecer seiva ao partido, está a conduzi-lo à estiolação. Afigura-se-me que bem mais eficaz seria conquistar as massas com medidas económicas que desanuviassem o custo de vida, que promovessem mais e melhores meios de subsistência, que reabrissem os postos de trabalho, em vez de discursos, de convicções, de manifestações, de opressões. O povo só se ilude no primeiro dia para verificar no segundo que a oratória não mitiga a fome de seus filhos.

A medida mais concreta (e talvez única) tomada neste campo foi a criação da EMPA (Empresa Pública de Abastecimentos). Esta organização propõe-se abrir estabelecimentos de venda de produtos alimentares essenciais em vários locais da cidade. Não se duvida da boa intenção, mas tenho reais descrenças quanto à oportunidade. Parece, por isso, ser uma iniciativa de fachada; daí certamente a preferência na realização.
(...)
Mas a produção, desde a independência bastante baixa, continua em declínio. Convenceu-se ou convenceram-no, que a independência era a mezinha milagrosa para viver sem trabalho, e só o tempo e a experiência o desenganará.
Tudo correrá suportadamente enquanto existirem bens dos brancos para desbaratar. Depois... depois o arrependimento será tardio. E, à medida que a fome apertar, vão-se formando grupos de ratoeiros, alguns até bem organizados e, por vezes, armados porque a sementeira de armas foi fértil.




CONTINUA...