Lobito 9 Fevereiro de 1976

Às 6.30 horas da manhã acordei com o som de 3 ou 4 estrondos provenientes, ao que parecia, dos quintais das traseiras do prédio onde moro. Não indicavam ser denotações de armas de fogo, antes estrépitos de madeira a estilhaçar-se. Cinco minutos depois soou grande explosão e então, já a pé, verifiquei que o fragor provinha o edifício do Rádio Clube, situado a pouco mais de 100 metros. Tinham sido dinamitadas as instalações da emissora e os estrondos anteriores foram produzidos pelo arrombamento a tiro das portas.

Estava aberto no capitulo da guerra no Lobito.

Durante a noite as tropas da UNITA tinham abandonado a praça. De manhã já não se viu um único soldado nos postos costumeiros. Mas antes da retirada total fizeram algumas derradeiras destruições, sendo a emissora uma delas.
Depreendia-se por isso, que as forças do MPLA estariam a chegar, tudo indicando que a cidade mais uma vez mudaria de mão e, felizmente, sem luta.
Ao decorrer do dia soube-se que ontem o Huambo tinha sido ocupado pelos cubanos do MPLA. A emissora da África do Sul (RSA) noticiou que, nesta conquista, se empenharam 6.000 soldados cubanos, 60 tanques russos T34 e T54, mais de 20 helicópteros munidos de mísseis ar-terra, e alguns aviões Mig. A Voz da Alemanha confirmou a notícia mas reduziu o contingente cubano a 3.000 homens.
Este, pode-se dizer, foi o mais duro golpe, porventura decisivo, que a UNITA sofreu nesta guerra; não tanto pela importância económica (pois Nova Lisboa estava já economicamente destroçada), mas pelo valor estratégico e, sobretudo, pelo trauma psicológico que terá produzido nas populações e no próprio Movimento, já que era a capital da jovem Republica Democrática.
Quanto ao Lobito, o dia passou-se em absoluto sossego; raras pessoas nas ruas, movimento nulo, nem um soldado. Não se sabe em que ponto estarão as forças atacantes.