Lobito 24 Junho 1976

Foi convocada para o passado dia 12 uma espécie de Assembleia Geral dos trabalhadores da Companhia de Ferro de Benguela, por iniciativa da Comissão Sindical recentemente "nomeada"... a título provisório.
Um dos pontos a ventilar era precisamente a nomeação, em vez de eleição, das Comissões Sindicais.
Embora a Lei prescreva que as comissões sindicais junto das empresas devam ser eleitas em assembleia de trabalhadores, na realidade tem acontecido que essas comissões foram arbitrariamente nomeadas pela UNTA (União Nacional dos Trabalhadores Angolanos), organismo sindical de cúpula (e único) do MPLA-
Quase sempre sucede que, em reunião de trabalhadores, o chefe local da UNTA apresente a comissão já por si nomeada, e diga mais ou menos:

- Camaradas: depois de cuidada ponderação, escolhemos os nomes constantes desta lista (e lê a lista) para formarem a Comissão Sindical da empresa. Se alguém tem objecções a apresentar, queira aqui dizê-lo.
Toda a agente fica silenciosa pelo que, passado breves momentos, continua:
- Já que ninguém se prenunciou, considera-se a Comissão eleita por unanimidade.
E assim se fez, mais uma vez, uma eleição "democrática".

Conscientes, porém, de que nem todos concordariam com tal sistema de eleições, e afim de prevenir eventuais (e quase certas) discordâncias e discussões que embotassem a desejada boa harmonia, cuidam previamente de tomar claro que os trabalhadores ainda não se encontram convenientemente esclarecidos (politicamente) que no seu meio há bastantes elementos que não merecem confiança (política) e que, por enquanto, não se pode correr risco de virem a ser eleitos para a Comissão elementos reaccionários que sabotariam o sistema. E completam a arenga com palavras de "ordem" e de intimidação, de molde a criar um ambiente de medo capaz de reduzir a assembleia a completa submissão.

O dirigente da UNTA (Vaz Jorge, de quem adiante se falará) teve nesta assembleia uma intervenção preparatória, incitando os "exploradores" a que "façam vir ao de cima o ódio e a vingança pois, se assim não fizerem, não serão verdadeiros revolucionários".
Explicou que não haverá eleições normais enquanto o povo não estiver bem politizado (e só estará politizado quando, bem entendido, aderir cegamente ao regime).




CONTINUA...