Lobito 11 Novembro de 1975

Foi finalmente alcançada a data para a Independência. E a Independência efetivamente aconteceu, mas não formalizada. Aconteceu somente pela retirada furtiva da representação portuguesa.

Ontem á noite o Alto-comissario da Republica Portuguesa (e sua comitiva) tomou rumo a Portugal, após breve alocução de despedida que, além de certo pessimismo, pouco dados deixou para a história.
Não houve entrega de poderes, não houve qualquer solenidade (até porque a retirada do Alto-comissario ocorreu na véspera). Houve simplesmente um abandono, com uma saída furtiva, uma renúncia pusilânime, um lavar de mãos ao jeito de Pilatos.
Portugal. melhor dizendo o Governo Português, com a insconciência dos imaturos, denunciou singelamente as suas responsabilidades de cinco séculos.
Inconsciência de imaturos ou canina fidelidade aos seus senhores eslavos ? A historia lhes dará a resposta.
De qualquer modo, a insânia da descolonização de Angola (para não falar na dos outros territórios) culminou tão vergonhosamente que por largo tempo terei pejo em revelar que sou português. Sim, porque não obstante esta "modelar descolonização" seja obra apenas de alguns, o desdouro é fácil de generalizar.

Luanda preparou-se para as solenidades da unilateral Independência.
Agostinho Neto fez convites mas, talvez receando desairosas recusas, da Europa Ocidental só teria convidado dois Países, segundo a Voz da Alemanha. Não se conhecem ainda as presenças, pois não comunicações entre Luanda e o Sul do território (salvo as facciosas informações das suas emissoras, claro!), mas consta que o avião que transportava a delegação portuguesa foi mandado retroceder quando se encontrava a uma hora da capital.
Hoje mesmo recebeu-se a noticia de que a Independência sob o Governo do MPLA foi reconhecida pela URSS, Cuba, RDA e mais países do Leste. Ainda está por definir a atitude das outras Nações.

No Lobito o dia decorreu sem novidades de maior. Porém, logo depois da meia-noite, começou a ouvir-se em toda a cidade cerrado tiroteio para os lados dos quartéis militares. As pessoas ficaram apreensivas, embora me parecesse que não se tratava de uma acção guerreira. E, efetivamente, logo de manhã se soube que tudo não passou de fogo festivo comemorando a Independência; parece que também houve a intenção de, com isso, aterrorizar a população negra para evitar excessos e desmandos.
Em Nova Lisboa havia sido previamente elaborado um programa de festas, com banquetes, sessões solenes e bailes, mas não tenho qualquer noticia de como decorreu.

E assim se passou o celebre 11 de Novembro, dia tão temido por muitos portugueses que fugiram para Portugal com tençoes de regressar depois desse dia, como se apenas o dia da Independência é que fosse perigoso, porque depois tudo deveria correr em mar de rosas.
Ah!...já me ia a passar. A emissora do Humbando anunciou que dois Movimentos (FNLA e UNITA) constituíram um governo que designaram por Governo no Revolucionário, com capital em Nova Lisboa, sendo presidido por Holden Roberto (Presidente do FNLA), 1º Ministro Dr. Jonas Savimbi (Presidente da UNITA) e 24 ministros e secretários de Estado distribuídos partidariamente pelos dois Movimentos.
Completaram-se assim os tradicionais requisitos para dar inicio a uma nova fase: guerra civil tipo Correia ou Vietnam.