Lobito 19 Fevereiro de 1976 (...)

(...) continuação

Em face de êxito tão folgante, desfizeram-se as dúvidas de muitos países até aí hesitantes na tomada de posição em relação a Angola. E surgiu a corrida ao reconhecimento do MPLA como legitimo representante do país; uns por simpatia ideológica, muitos por calculado aproveitamento da oportunidade de se inscreverem como eventuais preferentes dos benefícios económicos que Angola venha a oferecer.

Surpreendeu a França. A França que, posto que encobertamente, sempre ajudou os adversários do MPLA, foi o primeiro país da Europa Ocidental a decidir-se ao contrário da sua conduta anterior. Mas olhando as coisas um pouco mais fundo, a surpresa não será assim tão grande. É que a França, mormente nos últimos dois anos, havia desencadeado uma autentica ofensiva de investimentos em Angola e colocaria em perigo os seus capitais se não tomasse uma atitude oportuna. De resto, apenas se antecipou, pois tarde ou cedo acabaria por faze-lo, até para não contrariar a corrente que os outros países europeus se dispunham a seguir.

E assim estes países, reconheceram também a bondade dos processos soviéticos.

Mas ainda faltam muitos (até hoje) e, entre esses, contam-se Portugal e os Estados Unidos.
Como o Domínio territorial costuma ser a principal determinante para o reconhecimento do regime político de um país, logo o MPLA consegui esse domínio, grande parte dos países fundamentou a sua decisão nesse facto. Mas não deixa de ser curioso que quando as posições estavam invertidas três meses atrás, nenhum daqueles países se lembrou de invocar esse fundamento para reconhecer a legitimidade dos outros Movimentos que, então, imperavam na quase totalidade do país. E não será menos curioso verificar que muitos dos mesmos países levaram ano para reconhecer a República Popular da China, cujo imenso território foi, quase logo, totalmente dominado e ocupado pelas forças do regime maoista.
Ora os Estados Unidos ainda não reconheceram o MPLA como legitimo representante do povo angolano porque (já o declararam) têm dúvidas se o domínio territorial pertence ao MPLA ou ás tropas de Cuba. E deve-se confessar que é arguto o pretexto e que quase corresponde à verdade. Com efeito, quem conquistou Angola foram as forças cubanas, e é nessas forças que o MPLA escuda a sua autoridade administrativa.
Se, de repente, os cubanos desaparecessem de Angola, o regime do MPLA cairia como um castelo de cartas. Pelo menos neste momento.