Lobito 20 Maio 1976

Nos últimos dias tem constado com insistência que em Cabinda, na fronteira Sul, e na região do Bié se teriam desenvolvido recontros militares entre as resistências locais e as tropas de Cuba, com pesadas baixas para estas.
Em Cabinda, o morticínio teria sido de tal ordem que a BBC, de Londres, anunciou a existência de 1.500 cadáveres em Brazzaville (ex-Gongo francês) prontos para serem evacuados para Cuba.

Na fronteira Sul, onde se concentraram grandes contingentes de tropas, os cubanos teriam ensaiado incursões em território da Namíbia, mas teriam sido repelidos com grandes baixas. Igualmente se afirma a ocorrência de muitas deserções de cubanos para o lado do inimigo, noticia que tem a confirmação das emissoras do exterior.

Finalmente no Planalto Central a guerrilha recrudesceu (ao que parece desencadeada pela UNITA) também com significativas perdas para Cuba.
Alguns dos cubanos estacionados no Lobito, em conversa com amigos meus, teriam manifestado o seu desagrado pela forma como as operações têm decorrido em Angola pois, dizem, saíram da sua terra para virem combater o invasor estrangeiro (África do Sul) e não para tomar parte em confrontações entre angolanos, e muito menos em lutas de guerrilhas na mata para as quais não se sentem preparados. Com ironia ou não, adiantaram que, para esse tipo de luta, voltem a chamar os portugueses, que são o exército mais treinado.

Ainda que não confessem abertamente, sentem-se ludibriados. O seu receio em se embrenharem na mata é manifesto e, poderá dizer-se, generalizado. Não será tanto por falta de especial preparação, mas mais por convecção que se lhes radicou - que os guerrilheiros dos outros Movimentos são canibais! E contam histórias de arrepiar, histórias que apenas lhes contaram.
Desde já poderei garantir que a atoarda não tem o mais leve fundamento. E credenciam-me 36 anos de vida em Angola.
Mas como surgiu e se firmou tal boato, que até um ou outro sulafricano o referiu quando por aqui andou?
Pois, salvo outra proveniência coincidente, foi o próprio MPLA quem o teceu. Como oportunamente referi, quando no passado ano o MPLA expulsou de Luanda os outros Movimentos, encenou aquele lúgrude quadro de introduzir vísceras humanas em frigoríficos domésticos para, seguidamente, reunir lá os jornalistas e acoimar os membros da FNLA e UNITA de canibais. A noticia correu mundo, designadamente o mundo comunista. E essa lembrança perdurou nos crédulos.

Aquilo que então foi um boato proveitoso para aquele Movimento, volveu-se agora, por ironia, em lenda perniciosa para ele. Por virtude disso, são as próprias tropas que o defendem as que agora se recusam ao contacto.
Não deixa de ter graça verificar que o MPLA está a ser alvo da sua própria aleivosia.





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