Lobito 19 Janeiro de 1976

Como atrás foi dito -- e por razões que ainda se ignoram, mas certamente por ânsia de hegemonia -- a UNITA expulsou os elementos do FNLA. E nova tragédia se desencadeou naquelas cidades do Sul.

Era voz corrente que, durante o tempo em que coexistiram ali os dois Movimentos, a vida dessas cidades decorria quase normal, e as actividades comercial, industrial e agrícola mal se ressentiam do ambiente de guerra. Sabia-se também que, meses atrás, a UNITA tinha grande audiência por aquelas paragens.
Pois o imprevisto aconteceu: á debandada do FNLA segui-se a abalada de quase todos os brancos que restavam e de (como é natural) muitos pretos afectos a este Movimento.

De gente de Moçâmedes cuidou a emissora RSA ( de Johannesburg) de noticiar que chegou ao porto de Walvis Bay (Sudoeste Africano) um navio cipriota apinhado com 1.600 refugiados (brancos e pretos) e seguidamente um comboio de 20 pequenas embarcações rebocadas e igualmente pejadas de gente fugitiva.
Moçâmedes parece ter ficado assim "limpa" de brancos.
No que respeita aos brancos de Sá da Bandeira, consta (e a mesma emissora já lhes fez referência) que se reuniram todos na área do aeroporto, onde se encontram há já uns dias aguardando que, de fora, os vão recolher. Terão recusado voltar a suas casas e mesteres, mau grado insistências nesse sentido do Movimento imperante. Fala-se que ascendem a alguns milhares.
Sá da Bandeira ficará também "limpa" de brancos.

Poderá parecer fenómeno insólito esse, uma vez que essa região pendia para a UNITA meses antes. Mas a sua atitude colectiva , não será alheio o facto de, entretanto, nas cidades onde esse Movimento ficou a dominar, se tem verificado constantes e sucessivos desacatos aos brancos, com depredações e humilhações de todo o género.
Foi o aconteceu também em Nova Lisboa. É o que continua a acontecer em Benguela e no Lobito, não referindo já outras cidades menores e vilas, que essas há muito se quedam silenciosas.

A UNITA, que a principio averbou a simpatia da maioria dos brancos, em breve começou a perder pontos em razão a descomandada conduta dos seus homens. Ainda não consegui, sózinha, feitos militares de nota contra o seu principal adversário (MPLA), mas mostra-se a seu modo hábil como tropa de ocupação, contactando com a população civil ao jeito de invasores vitoriosos... na sua própria terra, vandalizando as suas próprias estruturas.

O que acaba de se passar em Moçâmedes e Sá da Bandeira é de desejar que lhe sirva de exemplo para rever a sua conduta futura.
É bem verdade que se nota por parte dos dirigentes do Movimento certa preocupação pela paralisação da economia em resultado da fuga dos técnicos, e apelam mais insistentemente para o seu regresso; mas, por outro lado, continuam a permitir que os seus bens sejam espoliados e que os que ficaram sejam continuadamente humilhados.

São atitudes que não se conjugam, a menos que eles se tenham convencido -- e as sucessivas abdicações tanto os devem ter encorajado -- que os brancos afinal são ilimitadamente conformistas e massa fácil e servil para satisfação das suas selvagens megalomanias.