Lobito 5 Julho 1976

Decididamente não há, em Angola, um espírito generalizado de reconstrução nacional; o povo nem sequer tem noção do que seja património nacional ou interesses nacionais. A avaliar pela conduta, julga que tudo o que não lhe pertence directamente é propriedade do inimigo e deve ser destruído.

Todos dizem lutar em Angola, mas todos destroem sistematicamente Angola, como se de país inimigo se tratasse.
Ao fim, o vencedor (se o houver) só terá escombros para administrar. E então acusará os outros de destruidores, de traidores à pátria (como já está a acontecer), mas eles próprios também arrecadam a sua parte na devastação. E não me refiro aos objectivos militares, que esses podem justificar-se por natureza.
Reporto-me  a bens públicos ou privados sem interesse para campanhas guerreiras. Todos os Movimentos têm afinado pelo mesmo tom, neste campo com destaque para as tropas da UNITA.
À excepção das maiores cidades que, por mais controladas, têm saído quase ilesas da depradação, todas as menores cidades, vilas e aldeias do interior foram assoladas pela onda vandálica dos predadores. As Câmaras Municipais, as instalações administrativas, as escolas, os postos sanitários, as restantes repartições públicas e algumas instalações fabris foram alvo de destruição dos recheios e os seus arquivos destroçados e incendiados.

A Companhia de Ferro de Benguela possui à volta de 36 mil hectares de plantações de eucaliptos (cerca de 97 milhões pés), essencialmente destinados a alimentar de combustível as suas locomotivas. Era considerada a maior plantação do mundo pertencente a empresa privada e dizia-se, com graça, que este caminho de ferro o era único que produzia o seu próprio combustível.

Esta plantação, intermitente, desenvolve-se em faixas ao longo da linha férrea desde o quilómetro 200 até perto da fronteira leste (klm 1.300) e está, para efeito de exploração, dividida em Perímetros florestais. Em cada Perímetro foi construído um aldeamento para o pessoal, posto sanitário, parque de veículos, alfaiais e máquinas.
Durante a guerra civil os aldeamentos, naturalmente, abandonados e escassas foram as noticias sobre o que lá acontecia. Recentemente, uma inspecção geral verificou que todos os aldeamentos foram danificados ou mesmo destruídos; que grande parte das alfaias desapareceram, tractores avariados ou desaparecidos; que cerca de 50 camiões e outras viaturas algumas estão avariadas com falta de peças e a maior parte desapareceu; que todas as plantações foram incendiadas, algumas em parte outras totalmente.

Autores: Todos os Movimentos que por lá passaram, com predominância, parece, das tropas da UNITA. Mas os cubanos também entraram no festim; estes interessaram-se "apenas" pelas viaturas e, sobretudo, pelas muitas dezenas de moto-serras, que já devem estar a caminho de Cuba.
O prejuízo não foi só para a Companhia proprietária, mas para toda a Nação, consequentemente para todos os angolanos.

E assim se está a construir uma Angola Nova!




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