Lobito 16 Dezembro de 1975

Enquanto não há acontecimentos notáveis a relatar, retrocedamos dois anos atrás.
Em fins de 1973 e princípios de 74 a guerra colonial estaria praticamente ganha para Portugal. As forças ditas de libertação encontravam-se quase aniquiladas. Seria a altura de se iniciar o estudo da solução política.
O MPLA, que já havia decaído no Norte, tinha então apagada acção na frente Leste que posteriormente havia criado; FNLA, também no Norte, tinha já pouca expressão; a UNITA que se formou e viveu sempre nas planuras do Leste, enquistada no seio da floresta, fazia raras surtidas de minguado efeito, e até se dizia que tinha tácito pacto de coexistência com as tropas portuguesas.

A tempestade desencadeada em Março de 61 estava quase amainada e já se viam prenúncios de tempo radioso. A população, branca e negra, saída do seu receoso torpor, lançava-se em entusiástica actividade na construção de uma terra onde fosse agradável viver.

Os investimentos multiplicavam-se e os capitais concorriam do exterior. Passados os primeiros tempos da borrasca, renasceu a esperança e a fé dos brancos no promissor futuro desta terra, e nela voltaram a investir todo o produto do seu labor.

Mas corria tudo bem ? Não. O Governo Português, açaimado por poderosa oligarquia do passado, procurava quase refrear os esforços locais por meio de um Ministro de Ultramar que, ainda a contragosto, se encontrava enfeudado a intolerante plurocracia.
E desta panorâmica brotou o 25 de Abril. A principio o acontecimento foi aqui acolhido com simpatia, pois mostrou logo abertura no sentido da maior autonomia para Angola e, consequentemente, de eliminação de alguns regimes de clamorosa exploração em beneficio de plutocratas metropolitanos.

Nasceu a esperança de que aquilo que o Governo de Caetano não teve a coragem de suprimir (ou não pôde) iria finalmente ter realização. É certo que consagrava o direito à auto-determinação que, posteriormente, se deturpou em direito à independência. Ora auto-determinação e independência não são sinónimos; independência será somente uma das opções que podem resultar da auto-determinação; reconhecida esta, logicamente a independência será um possível efeito dela.
O direito à auto-determinação caiu bem na população angolana que o entendia na pureza do seu significado. Por isso não houve alarme e toda a gente continuou confiante. E como a auto-determinação só é praticável através de consulta popular, os brancos de Angola estavam certos que o resultado dessa consulta podia levar Angola para uma automonia económica e administrativa (e levaria com certeza), mas não para autonomia política.

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