Lobito 22 Maio 1976

Agostinho Neto anda em visita a várias localidades do país. Passou há dias pelo Lubango, onde foi organizado um comício em que falou.
O Lubango, e toda a zona Sul, nunca foi atreito ao MPLA. As sua populações identificam-se mais com a FNLA e a UNITA, sobretudo com esta. Mas a desilusão que o comportamento da UNITA lhes causou, fez-lhe perder muitos adeptos, sem dúvida, embora não em beneficio do MPLA, certamente; pelo contrário, chegam-me revelações saudosistas do regresso à administração portuguesa. É que o MPLA, quase inteiramente constituído por gente do Norte, de diferente estirpe, jamais conquistou audiência expressiva entre a gente do Sul.

Não obstante, Neto abriu o seu discurso congratulando-se com o facto de verificar que toda a população da região estava com o MPLA. Fez afirmações de certa gravidade de onde respigo os passos de maior interesse para nós, brancos, que vou transcrever:

"Vamos ver, simplesmente, quem é patriota, quem é que pode contribuir para o progresso do nosso país e quem é reaccionário. Quem é reaccionário, se for estrangeiro vai para a sua terra; se for angolano vai para a cadeia. Não exigimos que todo o povo seja MPLA. Isto seria impossível; há liberdade de pensamento. O que nós não permitimos - e não permitiremos nunca - é que haja actividades contra o MPLA.

E mais adiante:

"Parece que há aí algumas religiões, não sei se são cristãs ou não, que estão ao serviço dos imperialistas. Portanto, essas religiões têm que desaparecer daqui. Todos sabem ao que me refiro"

Mais abaixo:

"... o Conselho da Revolução tomou certas medidas. Primeiro, todo os bens dos colonialistas (que se foram embora, que deixaram as fazendas, que deixaram as fábricas, que deixaram as casas) vão ser confiscados pelo Estado e já confiscámos alguns. Quer dizer que as empresas agrícolas, as fábricas, as casas abandonadas nas cidades, tudo vai ser confiscado pelo Estado para bem do povo e vai ser entregue ao povo".

E no desenvolvimento desta ideia:

"Quem fugiu daqui já não tem direito a possuir nada em Angola. E não aceitamos procurações. Aqueles que têm apara alugar casas, para gerir empresas, podem ter a certeza que, daqui a alguns dias, essas procurações serão invalidadas; portanto as casas aqui da cidade de Lubango, de Luanda, enfim, de todas as cidades do nosso país, que foram abandonadas, os prédios que foram abandonados, vão ser entregues ao nosso Povo".




CONTINUA...